A Indústria do K-pop e a Engenharia de Produção: um processo sincronizado

A Indústria do K-pop e a Engenharia de Produção: um processo sincronizado

Escrito por João Pedro

Publicado em 08/06/2025

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Você provavelmente já ouviu falar de BTS, BLACKPINK ou Stray Kids. O K-pop se tornou um fenômeno global, movimentando bilhões de dólares por ano, conquistando fãs em todos os continentes e transformando a Coreia do Sul em uma potência cultural. Mas, além dos palcos e coreografias impecáveis, existe uma engrenagem invisível, tão sincronizada quanto os passos dos idols, que faz tudo isso funcionar: a lógica por trás da Engenharia de Produção.

E se eu te dissesse que os mesmos princípios usados para gerir fábricas de automóveis, reduzir desperdícios e otimizar processos estão presentes nos bastidores da indústria do K-pop? Pois é: BTS também é Lean.

Produção enxuta e a fórmula dos hits

O conceito de produção enxuta (Lean Manufacturing) surgiu no Japão, mas também se consolidou na indústria musical sul-coreana. O foco em eliminar desperdícios, maximizar valor e manter a qualidade está presente em cada etapa do processo de lançamento de um grupo de K-pop.

Agências como HYBE, SM Entertainment e JYP funcionam como grandes corporações industriais: monitoram dados de mercado, analisam tendências, realizam testes com o público (os famosos “trainees” são protótipos em fase beta!) e lançam produtos ou melhor, artistas com alto valor agregado para o consumidor final: os fãs.

Gestão da Cadeia de Suprimentos: do trainee ao palco mundial

A Supply Chain Management (SCM) ou Gestão da Cadeia de Suprimentos é uma das áreas mais clássicas da Engenharia de Produção. No K-pop, a “cadeia” começa com o recrutamento e treinamento dos idols, passa pela composição, produção musical, gravações, ensaios, design de figurinos, marketing e, por fim, a entrega: o comeback no Spotify, o MV no YouTube ou a turnê mundial.

Assim como uma montadora precisa que cada peça do carro chegue na hora certa à linha de montagem, as empresas de K-pop precisam que coreógrafos, produtores, estilistas, gerentes e até psicólogos atuem de forma sincronizada. Um atraso na entrega de um figurino pode comprometer todo um showcase e na produção, tempo é dinheiro.

Just-in-Time: a dança da eficiência

O sistema Just-in-Time (JIT), desenvolvido pela Toyota, consiste em produzir apenas o necessário, na hora certa, no lugar certo. Ele se aplica perfeitamente ao planejamento de lançamentos no K-pop. Nada é feito ao acaso: cada teaser, imagem conceitual ou spoiler é liberado estrategicamente para maximizar o hype e evitar saturação.

Além disso, os lançamentos são ajustados de acordo com a agenda global de eventos, comportamento de consumo dos fãs e até horários de pico no Twitter. Isso exige um controle minucioso de dados e uma capacidade absurda de análise de demanda, outro ponto forte da Engenharia de Produção.

Qualidade Total: quando cada detalhe importa

Um MV de K-pop pode levar semanas de gravação, mesmo tendo apenas 3 minutos de duração. Por quê? Porque a busca por qualidade é obsessiva. Cada take, cada figurino, cada iluminação é revisitado inúmeras vezes. Esse processo reflete diretamente os princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM): uma filosofia que prioriza a excelência em todas as etapas do processo produtivo.

Além disso, a voz dos clientes (no caso, os fãs) é constantemente ouvida. Através de redes sociais, enquetes e eventos, as empresas coletam feedbacks que orientam decisões futuras da setlist dos shows ao conceito visual de um álbum.

Dados, Métricas e Engajamento: o BI no mundo do K-pop

Você já se perguntou por que grupos de K-pop fazem tantos challenges no TikTok ou interagem tanto com fãs em plataformas como Weverse ou Bubble? Isso tudo é parte de uma estratégia baseada em Business Intelligence (BI).

Engenheiros de Produção são treinados para tomar decisões com base em dados. E no K-pop, tudo é mensurado: quantidade de visualizações, curtidas, engajamento por região, faixas etárias dos ouvintes, entre outros. Com isso, as gravadoras conseguem prever tendências, ajustar cronogramas e maximizar resultados com o menor custo possível.

Gestão de Projetos: lançar um comeback é como construir um foguete

A cada comeback, um grupo de K-pop mobiliza dezenas, às vezes centenas de profissionais. O gerenciamento dessa operação é comparável a projetos de grande porte na indústria. Desde o cronograma de ensaios até a agenda de divulgação internacional, tudo segue um Planejamento, Execução, Monitoramento e Encerramento, como manda o PMBOK (Project Management Body of Knowledge), um dos guias mais importantes da Gestão de Projetos.

Conclusão: K-pop é mais Engenharia de Produção do que você imaginava

O K-pop emociona, lucra e viraliza. Mas por trás de cada MV com 100 milhões de views, há um processo estruturado com base em estratégias de produção, logística, gestão de qualidade e análise de dados. A indústria do K-pop é um case real de como a Engenharia de Produção pode atuar muito além das fábricas, inclusive no palco.

Portanto, da próxima vez que assistir a um comeback, lembre-se: por trás de cada passo sincronizado, há muita estatística, planejamento e engenharia envolvida. Porque, no fim das contas, produzir sucesso também é uma ciência.