A logística vencedora. Como a Engenharia de Produção auxilia o Fortaleza EC a alcançar resultados

A logística vencedora. Como a Engenharia de Produção auxilia o Fortaleza EC a alcançar resultados

Escrito por Glauco Lopes

Publicado em 17/03/2025

post-thumb

Foto: Mateus Lotif / Fortaleza EC

A logística é uma das áreas mais amplas, bonitas e complexas da Engenharia de Produção, ela está presente em tudo, desde os problemas mais complexos de uma grande indústria até a mais simples decisão cotidiana de qual ônibus você vai pegar para ir para a faculdade, ou que caminho pegar para dirigir até o trabalho. A logística gera perguntas e respostas para tudo, mas, você já se perguntou como funciona a logística de um clube de futebol?

Imagine a complexidade de planejar o deslocamento de um grupo de atletas, comissão técnica e funcionários, com o maior conforto e comodidade possível, pois afinal, o instrumento de trabalho deles, é o corpo, o desgaste deve ser o mínimo possível no deslocamento para um jogo. Além disso, onde se hospedar? Como será a alimentação? Como conseguir um local de treino?

São muitas variáveis que influenciam essa conta, e o torcedor? A realidade é que ele só vê e só quer saber do resultado após 90 minutos, independente de você ter cruzado um país de proporções continentais para correr 14 km em grande intensidade, é aí que mora o desafio.

O Fortaleza e sua logística intensa

O principal alvo desse blog e dessa pesquisa é o Fortaleza Esporte Clube, que no ano de 2023 foi o clube da série A que mais disputou partidas, sendo inacreditáveis 78 jogos durante o ano pelas competições: Campeonato Cearense, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Série A, Libertadores da América e Copa Sul-Americana.

Nesse contexto, a questão geográfica é um dos pontos que mais impacta nessa logística, o Fortaleza, localizado no nordeste, por exemplo foi o time da série A que mais viajou no ano de 2023, percorrendo cerca de 30 mil quilômetros a mais que o segundo colocado do ranking, totalizando mais de 85 mil km viajados por toda a América do Sul para disputar seus jogos, o equivalente a aproximadamente duas voltas ao mundo, enquanto Corinthians, São Paulo e Palmeiras, times de São Paulo, somaram aproximadamente 22 mil km viajados.

Mesmo com essa grande quantidade de jogos e campeonatos, e o desgaste decorrente desse calendário, o clube ainda obteve um grande êxito durante a temporada, conquistando o 5º título cearense consecutivo, o vice da copa sul americana e finalizou pelo 4º ano seguido entre os 10 da série A.

As estratégias de logística foram essenciais para que esse êxito acontecesse, como afirma Marcelo paz, o atual CEO da SAF do Fortaleza em publicação:

“Em gestão, um dos conceitos de eficiência é: Fazer mais, com menos e melhor. Mesmo com a pior logística do campeonato, andamos 60% a mais que o 2º pior e 400% a mais do que as melhores logísticas. […] Mesmo assim, um honroso 10º lugar na competição, e mais uma vez vaga continental. Fomos muito eficientes”

Foto: Mateus Lotif / Fortaleza EC

O problema do calendário

Um dos pontos que mais é alvo de reclamações, não só do Fortaleza, mas de todos os clubes, é a questão do calendário massacrante estabelecido pela CBF, Confederação Brasileira de Futebol. Calendário o qual encaixa cerca de 80 jogos por ano a cada quarta e domingo, nos mais distantes cantos do país pelas mais diversas competições, sem pensar na saúde do atleta e muitas vezes sendo pouquíssimo flexível com as datas dos jogos. A título de comparação, o Real Madrid, maior clube do mundo, jogou 55 jogos no ano, o Manchester City, clube inglês que somou 7 campeonatos durante o ano, jogou 59 jogos. Alguns nomes importantes e influentes no futebol brasileiro já teceram críticas ao calendário: Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, comentou:

“Vocês vêm vários treinadores falando disso, o do Atlético falou, o do São Paulo falou. Faz muita diferença ter dois ou três dias de descanso. O que eu vou lutar sempre é que a CBF, juntamente com as pessoas que programam o calendário, é que para todas as equipes possa existir pelo menos três dias de intervalo a cada jogo. […] Estamos de forma consecutiva correndo risco de nos lesionarmos. Hoje parece que não houve nada de grave, mas vocês viram o Zé (Rafael), que acabou as pilhas. Não há milagres.”

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Estratégias logísticas dos clubes

Cada time possui sua particularidade para enfrentar os diversos desafios logísticos do futebol brasileiro e sulamericano. Uma das saídas que a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, utilizou para contornar os entraves logísticos, foi a compra de um avião para o clube, em declaração, a empresária afirmou que o avião será usado para viagens nacionais, para fora de São Paulo, e internacionais, com flexibilidade para definir o melhor dia e horário para as viagens, e complementou: “Em breve nossos atletas estarão voando com conforto e agilidade”.

No caso do Fortaleza, que possui um aporte financeiro consideravelmente menor que o do Palmeiras, a saída está em um bom planejamento de viagem, os chamados “mochilões”, que são viagens que o clube faz no caso de uma sequência de jogos fora de casa, nesse caso, não voltando para a capital cearense no intervalo entre os jogos, ademais o investimento em tecnologia e recuperação é parte essencial desse projeto, com um trabalho científico que vai desde o fisioterpeuta e nutricionista até a minutagem adequada do atleta em campo. Além disso, fatores psicológicos também influenciam no desempenho do atleta, então, sempre que possível, é essencial passar o máximo de tempo na cidade de Fortaleza.

Assim como o futebol, a logística é previsivelmente imprevisível, por isso se complementam tão bem, a saída para o bom desempenho em ambos os mundos está no trabalho de profissionais qualificados e um planejamento estratégico, que é exatamente o caso do Fortaleza, destoando-se de diversos clubes que se endividam irresponsavelmente pensando apenas no presente, inconsequência praticada de presidente para presidente, sem pensar no bem maior do clube, que é o torcedor. Com planejamento, responsabilidade e profissionais competentes, provou-se que é possível rodar o mundo duas vezes e ser referência no seu âmbito.

*Legenda da foto: Marcelo Paz (esq.), Bruno Costa (centro) e Alex Santiago (dir.), dirigentes do Fortaleza
Foto: Mateus Lotif / Fortaleza EC