Logística Humanitária

Logística Humanitária

Escrito por Otávio Gabriel

Publicado em 07/05/2024

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Introdução

Os desastres naturais são fenômenos que decorrem de ações humanas sobre o meio ambiente e que desencadeiam consequências que afetam a vizinhança do seu ponto de origem, podendo destruir fauna, flora e, também, chegar às cidades habitadas próximas, prejudicando a população local. A atividade exploratória resulta em eventos catastróficos que possuem potencial de danificar o ecossistema da região e, até, de vitimar pessoas. Como exemplo, pode-se citar o caso da cidade de Brumadinho - MG em 2019 que, após o rompimento de uma barragem, foi soterrada com lama tóxica causando a contaminação da água, a morte de cerca de 270 pessoas (excluindo o número de desaparecidos) e o impacto à vida vegetal e animal da região.

Além disso, fenômenos naturais (como tsunamis, terremotos, erupções vulcânicas, etc…) também podem afetar a vida humana, tanto pelos danos que podem ser causados à infraestrutura de cidades e construções, quanto pelo risco à integridade física das pessoas. Essa foi a situação enfrentada pela Ásia em 2004, quando a movimentação de placas tectônicas causou um tsunami que atingiu 14 países e deixou mais de 225.000 mortos no continente, além dos estragos em diversas regiões. O caso foi descrito pela ONU como um dos piores desastres já registrados.

Outrossim, os conflitos bélicos (chamados de desastres não naturais) em território habitado também têm uma capacidade arrasadora e ocasionam insegurança, desabrigo e fome nos afetados. Isso pode ser constatado ao observar-se o histórico de guerras que acontecem quase todos os anos no mundo, como a de Israel-Hamas, que já deixou mais de 30.000 mortos só na Faixa de Gaza e já dura quase 7 meses.

Assim sendo, tanto nas ocasiões de catástrofes naturais quanto nas de não naturais, quando pessoas são atingidas pelo desastre, a Logística Humanitária (LH) se faz necessária. Ela é definida como o planejamento e a execução de ações que visam receber, armazenar, transportar e distribuir recursos necessários à vida (alimentos, água, materiais de higiene e materiais de saúde), além de trabalhar com um fluxo humano para o resgate e a ajuda às vítimas. Dessa forma, a LH se mostra de suma importância para a manutenção da vida dos assolados pelas tragédias.

Espaço Humanitário

A LH encontra-se em um campo chamado de Espaço Humanitário, que é definido pela organização Médicos sem Fronteiras como “um ambiente que garanta que a ajuda humanitária possa ser prestada de forma imparcial e independente, alcançando todas as pessoas em necessidade”. Esse espaço possui 3 características principais: a humanidade, que garante o direito de todos os afligidos de receberem ajuda, a neutralidade, que diz respeito ao não-envolvimento das organizações ou voluntários responsáveis pela LH em hostilidades de ordem política, ideológica, religiosa ou racial, e a imparcialidade, que garante a ausência de qualquer tipo de descriminação ou preconceito. Dessa forma, toda a atuação humanitária é livre de privilégios e/ou exclusões, buscando-se sempre que os recursos disponíveis sejam bem distribuídos e cheguem a todos os necessitados.

Processos da LH

1 - Centros de acolhimento e/ou arrecadação: um dos primeiros passos a ser realizado para o início da LH é a montagem de centros, que podem ser de acolhimento às vítimas (devendo ser, preferencialmente, próximo aos locais assolados pelo desastre) ou de arrecadação (nos quais são armazenados os materiais doados ou adquiridos para a ação). Eles podem tanto ser feitos pelo governo local, com construções de tendas ou oferta de prédios desativados, quanto pelos próprios voluntários.

2 - Recursos humanos: para que o trabalho a ser realizado nos locais afetados possa ser abrangente e efetivo, são necessários, para além dos recursos materiais, os recursos humanos, que são, na maioria dos casos, compostos por voluntários que podem tanto ajudar de sua própria casa (com a gestão de informações e gestão da logística) quanto se deslocando para os Centros de arrecadação ou, até, para outros países, para reforço na ajuda. Isso pode ser feito de maneira ordenada, quando uma instituição toma a frente da organização (geralmente, ONG’s) ou de maneira mais livre, quando a tragédia é anunciada e são feitos chamados de voluntários. O voluntariado detém um dos mais importantes propósitos da LH, por ser responsável não só pelo transporte e distribuição de recursos, mas por também dar apoio às pessoas que, dependendo das circunstâncias, já acreditavam não haver esperança. Os voluntários podem ser pessoas com profissões ligadas aos socorro de vítimas (como o caso de médicos e enfermeiros) ou não.

3 - Arrecadação de materiais: uma das formas mais comuns de arrecadação de recursos para a LH são as doações, que podem ser feitas tanto com envio de materiais e alimentos para os centros quanto por transferência monetária. Além disso, o próprio governo do local afetado pode disponibilizar os recursos necessários, tais como materiais de primeiros socorros ou alimentos. Esse passo também pode ser feito de maneira mais ordenada (fazendo-se, primeiramente, o levantamento da real necessidade, visando reduzir desperdícios) ou de maneira livre (quando a situação é muito grave e expansiva, necessitando de um volume de materiais muito grande).

4 - Transporte: uma das fases mais dispendiosas por exigir diversos artifícios (o transporte em si, o combustível, a rapidez, etc…), a gestão dos transportes deve ser a melhor possível para garantir que mais mantimentos cheguem no tempo certo, na quantidade certa e com o mínimo de perdas (pela validade, por exemplo). Essa movimentação pode ser por via aérea (quando vai de um(a) país/estado/cidade para outro(a) ou por via terrestre (se houver bloqueio aéreo ou se os acessos foram dificultados). Esse transporte também pode ser de pessoas, seja de envio e retorno dos voluntários, seja do resgate das vítimas.

5 - Psicologia: um dos processos que envolvem o pós-socorro das vítimas é o tratamento psicológico, uma vez que essas pessoas podem desenvolver diversas condições psicológicas como o transtorno pós-traumático, a depressão ou a ansiedade. Isso se dá por presenciarem a destruição de suas casas e a morte de entes queridos e pode não ser notório imediatamente. Essa etapa é muitas vezes negligenciada por falta de profissionais adequados para a atividade ou mesmo por ser tratada de menor importância, frente aos demais males a serem sanados.

Desafios enfrentados

Os principais desafios enfrentados pelas equipes humanitárias são:
1 - Acesso aos locais: como na maioria das vezes os locais para os quais será direcionada a ajuda estão destruídos, a entrada de pessoas e mantimentos se torna muito difícil, assim como a saída dos mesmos.

2 - Fatores humanos: pode haver a falta de voluntários necessários para uma intervenção eficiente ou o despreparo deles, que tendem a agir na emoção e, dessa forma, podem ocasionar problemas.

3 - Materiais: armazenagem, validade dos produtos perecíveis, levantamento do que é necessário para a logística acontecer e falta de doações.

4 - Psicológico: os terrores causados pelos desastres podem influenciar diretamente as pessoas afetadas, levando a casos de depressão ou problemas psicológicos. Esse fator também é válido para os voluntários, uma vez que lidam com destruição, pessoas feridas e situações degradantes das cidades.

Conclusão

Diversos foram as situações nas quais a LH foi necessária, desde as mais localizadas até grandes catástrofes que atingiram vários países. Guerras e surtos de doenças são comuns e exigem que a ajuda humanitária seja acionada para a garantir a manutenção da vida, além dos casos de acidentes, como aconteceu em Brumadinho e Mariana, e de fenômenos naturais, iguais aos que atingiram a Ásia em 2004.
Muitos são os fatores de risco e que podem dificultar (ou até impedir) a LH de acontecer, podendo haver perdas materiais ou humanas e, por isso, é necessário o apoio de mais pessoas ou do governo local para aumentar as chances de sucesso da atividade.