Estamos preparados para a 4° Revolução Industrial? - Blog #02 (Especial OnePage)

Estamos preparados para a 4° Revolução Industrial? - Blog #02 (Especial OnePage)

Escrito por Candido Brito

Publicado em 28/01/2021

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(Tempo de leitura: 8 minutos)

O que você vai ver neste post:

  • 1) Explicação rápida sobre 4° Revolução Industrial.
  • 2) Portarias eletrônicas e como já estamos no processo.
  • 3) O que ela traz de bom?
  • 4) Enzo x José: os contras da revolução.
  • 5) Possíveis saídas para os problemas.

Este post faz parte de uma série de 3 artigos que serão postados no BlogsPET esse semestre referentes ao projeto One Page. Inspirada em uma prática utilizada por consultores, o One Page é uma atividade realizada no PET Produção em que os participantes recebem um tema para discussão e devem apresentar uma argumentação junto de uma apresentação visual limitada ao tamanho de uma folha de papel. A cada mês, o participante de melhor argumentação trará um post sobre o tema apresentado no Blog. O tema dessa semana é “A contradição da 4° Revolução Industrial: o que ganhamos e do que abrimos mão com ela? Como fazer essa transição de forma adequada?” e o responsável pelo post é o petiano Candido Brito.

1) Explicação rápida sobre a 4° Revolução Industrial

Ao longo da história da humanidade, nós passamos por três grandes Revoluções Industriais, e todo mundo normalmente sabe decorado o que cada uma representa. Basicamente, a primeira está ligada ao uso do vapor na produção mecânica abrindo espaço para a maquinofatura, a segunda tem a ver com a descoberta de novas fontes de energia e a criação da cadeia de montagem, e a terceira por volta da década de 70 com a informática.

Estamos caminhando para o estabelecimento da próxima grande Revolução. O presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab define a 4° Revolução Industrial como uma revolução que “gera um mundo no que os sistemas de fabricação virtuais e físicos cooperam entre si de uma maneira flexível a nível global”. Ela está ligada principalmente a sistemas inteligentes, mas também entra em campos como o da nanotecnologia, computação quântica e outras coisas mais.

Mas não vamos ficar explicando sobre definições aqui, nosso foco são os impactos causados por ela.

2) Portarias eletrônicas e como já estamos no processo.

Dado um panorama geral sobre o tema. Vou começar nosso artigo contando sobre um fato sobre minha família: meu pai trabalha na portaria de um prédio na parte da noite e não há muito com o que se distrair durante esse período de trabalho. O passatempo preferido dele na madrugada é mandar aúdio para as rádios locais e participar desses sorteios dos programas, de vez em quando ele aparece na minha casa com uns prêmios diferentes. Sempre nos aúdios, ele manda um “alô” para os outros porteiros da região que provavelmente possuem o mesmo hobbie. Talvez você esteja se perguntando o que isso tem a ver com nosso tema. Acontece que muito provavelmente, em breve, as portarias eletrônicas vão substituir por completo estes rapazes: meu pai, os porteiros das redondezas, e os porteiros de todo o mundo. Em alguns lugares, já até substituiu. E isso é só um pedaço da unha do dedo mindinho da 4° Revolução Industrial.

E onde eu quero chegar com tudo isso? Na verdade no ponto-chave deste post: as mudanças já estão acontecendo e estamos em meio a elas. Não podemos parar agora e dizer: “Esperem aí, olha, não estamos prontos ainda pra isso, ok? Vamos mais devagar, nem todo mundo tá pronto.” NÃO DÁ! Então, o que nós temos na verdade de missão não é tentar forçadamente desacelerar, nem quebrar robôs ou desligar as IA’s das tomadas, como um tipo de ludistas do século XXI, mas, na verdade, mitigar os efeitos negativos dessas transformações.

3) O que a 4° Revolução traz de bom?

Primeiro vamos olhar para o lado positivo da história. Os processos dessa 4° Revolução podem trazer possíveis soluções para problemas que enfrentamos hoje. No mundo da Engenharia de Produção a maioria das pessoas já tem noção de como as mudanças se aplicam no processo produtivo e na otimização dele, por isso eu trouxe alguns exemplos além deste campo, baseado em um material do Fórum Econômico Mundial.

Aproveitamento de recursos

Começamos com o aproveitamento de recursos, ou seja, processos que desperdiçam cada vez menos e acabam consumindo cada vez menos recursos. Isso é essencial em um mundo onde os recursos são escassos, mas as necessidades são ilimitadas.

Mudança de matrizes energéticas

Outro ponto importante, é a aceleração a partir de novas tecnologias do processo de mudança das matrizes energéticas utilizadas atualmente. Esta é um frente que vem avançando ao longo do tempo, e que tem tudo para crescer exponencialmente à medida que novas tecnologias surgem, a partir de uma maior facilidade de armazenamento e distribuição de energia.

Redução de plásticos

Na área de síntese de materiais, esta revolução pode mudar os rumos do problema atual que passamos com os plásticos. Já que novos materiais começam a ser criados, com uma degradação mais rápida, além da difusão da impressão 3D.

Avanços na saúde

A evolução dos métodos para cura de paralisias, a criação de ossos vivos a partir de dados 3D, e a edição e observação do genoma para entender as mudanças genéticas que levam ao câncer são exemplos de como a Quarta Revolução Industrial traz mudanças também em uma área tão importante como a da saúde. Podemos ver parte disso, na busca pela vacina para imunização contra a Covid-19.

Outras questões podem ser citadas, como nanotecnologiasm, neurotecnologias, biotecnologia, drones, moedas digitais. Outros exemplos podem ser vistos neste vídeo elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, legendado em português:

4) Enzo x Raimundo: os contras da revolução

Mas neste conto de fadas dos benefícios, alguns problemas aparecem, e para falar disso irei usar o exemplo utilizado pelo pesquisador do MIT, Andrew McAfee, no TED “What will future jobs looks like?” (“Como serão os empregos do futuro?”, em português)

A premissa se baseia em um estudo do cientista político americano Charles Murray, chamado Coming Apart: The State of White America. Ele compara dois tipos de trabalhadores americanos que para este artigo eu irei chamar de Enzo e Raimundo. O primeiro, Enzo, tem formação universitária, como um engenheiro, médico ou um advogado. Já o segundo, Raimundo, não tem formação universitária e trabalha normalmente como operário.

O que Charles Murray observa é que a medida que a tecnologia, a automação e coisas digitais são injetadas na economia, a partir de mais ou menos 1960, os rumos de Raimundo e Enzo vão tomando caminhos diferentes em várias perspectivas.

Primeiro que ao longo desse tempo pessoas como Enzo continuaram a ter um emprego de tempo integral, já como Raimundo não. Em muitos casos Raimundos saíram completamente da economia. Essa divergência pode ser observada em outras áreas da vida, ao longo do tempo a sensação de felicidade no casamento de Enzos continuaram se mantendo estável, enquanto a de pessoas como Raimundo despencou, além dos filhos destes cada vez menos cresceram em um lar com os dois progenitores. Por fim, observou-se que pessoas com o perfil de Raimundo começaram a ir votar menos nas eleições presidenciais e também começaram a ir para a prisão com mais frequência.

Este cenário ilustra um dos principais e mais preocupantes problemas advindos da 4° Revolução Industrial, a questão do desemprego e da desigualdade social. Mundialmente, de acordo com pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 75 milhões de empregos vão desaparecer por conta de tecnologias como a automação até 2022. Se o período analisado for ampliado até 2030, um estudo da consultoria McKinsey mostra que entre 400 milhões e 800 milhões de trabalhadores poderão ser substituídos por máquinas. Estas preocupações se juntam a questão de como e quando alguns países subdesenvolvidos vão conseguir “entrar” nessa onda da Quarta Revolução, o que certamente acontecerá depois de países desenvolvidos.

5) Possíveis saídas para o problema

É pensando nestes tipos de situações que podemos imaginar possíveis saídas para estes problemas que acompanham as evoluções da 4° Revolução Industrial. Como destacado no início, pensando sempre em mitigar os ônus, ao invés de desacelerar os bônus. Obviamente este não é um processo simples e passa por outras decisões bem como envolve diferentes variáveis em questão, mas podemos pensar em dois pontos principais:

1. Alguns empregos permanecem, outros novos surgem

Apesar das ameaças de extinção de empregos, podemos dizer que alguns deles estão de certa forma “blindados” contra esse perigo. A revista de tecnologia Fast Company listou algumas profissões que pertencem a este grupo. Entre elas estão carreiras que requerem criatividade como músicos e artistas, profissões que dependem de competências essencialmente humasnas como na área da psicologia, cuidadores e até mesmo professores, alguns trabalhadores da área da saúde e curiosamente, cabelereiros.

Além disso, quem há alguns anos atrás pensou que existiriam profissões que trabalham com otimização de busca online, produção de vídeo para a internet ou até mesmo desenvolvedores de aplicativos? Isso significa que ao longo da história ao passo que empregos antigos somem, novos são criados o que acaba balanceando de certa forma a equação. O mesmo levantamento do Fórum Econômico Mundial citado anteriormente mostra que, no período estimado, 133 milhões de novos empregos serão criados. Ou seja, no final das contas, o saldo positivo poderá ser de 58 milhões de postos de trabalho.

2. Foco em educação + programas de renda mínima

O segundo ponto, e talvez o mais importante, está ligado a educação. Vimos nesse artigo todo sobre as mudanças que o mundo está passando e ainda vai passar, e a nossa arma que nos ajuda a acompanhar isso é a capacidade de aprendizagem. Isso nos leva obviamente a voltar nossas atenções a adaptações ao nosso modelo de ensino desde a infância que ainda se baseia em práticas bastante antigas. No outro extremo da mesa, também é importante o apoio à educação de pessoas mais velhas, reduzindo o efeito de um certo “darwinismo tecnológico”. O intuito com ações desse tipo é fazer com que não apenas novas oportunidades surjam, mas também que as pessoas estejam preparadas para essa adaptação do cenário de trabalho.

Uma iniciativa que poderia acompanhar esse processo educacional e digamos “ganhar um pouco de tempo” para algumas determinadas populações são os chamados de programas de renda mínima universal. Com uma garantia por parte do governo de uma renda fixa, essa ação de caráter não-perpétuo, acompanhada de outras políticas sociais podem ser usados como forma de mitigação destes males.

E você, o que acha dessa história toda? Concorda, discorda? Você acha que conseguiria trazer essa discussão em uma página só? Pra facilitar, vou deixar a minha One Page desse assunto aqui embaixo. E espero que você tenha ficado ansioso para o próximo tema!