Atualmente no Brasil vê-se a Capoeira como um símbolo cultural, uma dança, uma arte. Mas sempre foi assim? Você sabe como a Capoeira se originou?
A história disso tudo se inicia no século XVI, quando Brasil ainda era colônia de Portugal. Nesse período a mão-de-obra escrava era muito utilizada, principalmente nos engenhos do Nordeste brasileiro. Muitos dos escravos vinham de Angola, também colônia portuguesa. Um fato interessante nisso é saber que os angolanos tinham muito em sua cultura a prática de danças ao som de músicas, o que tem grande influência na criação da Capoeira.
Mas por que a Capoeira foi criada?
Naquele período via-se uma enorme necessidade de algo que pudesse ser utilizado para se defender da violência sofrida pelos senhores de engenho, que castigavam frequentemente os escravizados. Qualquer prática de luta ou arte marcial por parte dos africanos era fortemente proibida. Então, com a mistura das danças culturais trazidas da África, e a necessidade de se defender, nasceu a Capoeira, uma luta disfarçada de dança, instrumento importantíssimo de resistência para os escravizados da época.
A luta era praticada principalmente em terreiros próximos às senzalas, e servia tanto como manutenção da cultura africana como da saúde, além de aliviar um pouco do estresse ocasionado pelos maus-tratos do dia-a-dia. Uma informação importante é falar sobre a origem do seu nome. Os senhores de engenho chamavam o local onde eles praticavam a luta de “Capoeira” ou “Capoeirão”, que são pequenos arbustos, ou uma mata rasteira que já foi derrubada. Por esse motivo, chamaram a dança de Capoeira.
Após a abolição da escravidão, com o passar dos anos, a Capoeira tenta se manter com suas características de criação, como a Capoeira Angola, porém surgem outras ramificações, como a Capoeira Regional de Mestre Bimba e a Capoeira dita Contemporânea. Elas se diferenciam principalmente nos movimentos e no ritmo musical, porém os golpes são os mesmos.
A Capoeira Angola é o estilo de Capoeira mais antigo, onde foi criada no período da escravidão. Dentre suas características estão: o ritmo lento, golpes mais próximos do chão e o jogo é bem mais estudado, os capoeiristas entram em sintonia na hora da jogo. Ela teve como seu maior defensor e divulgador, Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha.
Vicente Ferreira Pastinha nasceu na Bahia, em Salvador, em 5 de abril de 1889. Quando criança ele apanhava de um garoto mais velho que ele todos os dias. Em um desses dias, um velho Capitão de Navegação, o africano Mestre Benedito, o chamou e lhe disse que o ensinaria Capoeira para que ele pudesse se proteger do menino.
Em 1941, ele é convidado por seu aluno Aberrê a ir assistir uma roda no bairro da Gengibirra, roda essa que era o ponto de encontro dos maiores mestres da Bahia naquela época. Ao chegar na roda, ele é apresentado à Amorzinho, um guarda civil que tomava de conta do local. Ao ver o mestre, ele imediatamente o entregou o berimbau, juntamente com a responsabilidade do lugar.
Mestre Pastinha dedicou toda sua vida à Capoeira, e repassou com muita sabedoria todos os conhecimentos que lhe foram passados. Ele era um símbolo da Capoeira na Bahia, com suas rodas chamava a atenção de diversos visitantes que iam até a BA somente para lhe ver. A Capoeira lhe proporcionou muitas coisas que nunca sonhou em fazer, como sair do Brasil e ir até a África mostrar a sua
Capoeira para o mundo. Infelizmente, Mestre Pastinha fica doente, perde a visão e depois de um tempo não consegue mais realizar suas rodas. No fim de sua vida, seus alunos já não o visitavam frequentemente, ele se via numa situação financeira não tão boa, e em 13 de novembro de 1981, Mestre Pastinha falece, deixando todo seu legado a seus discípulos. Como foi dito anteriormente, a Capoeira tem suas ramificações, sendo uma delas a Capoeira Regional. Mas antes de falar dela, vamos comentar um pouco sobre o seu criador.
Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, nasceu no dia 23 de novembro de 1900. Ele aprendeu Capoeira com um negro de origem africana, de nome Nôzinho Bento, conhecido por Bentinho, que era Capitão da Cia de Navegação Baiana. Mestre Bimba era conhecido por ser um grande lutador nos ringues e no Batuque, luta esta que aprendeu com seu Pai, que era mestre no Batuque. Ele era também um exímio angoleiro, porém viu que a Capoeira estava sendo muito folclorizada, vista como dança e quis fazer com que ela tivesse uma maior força como luta. Juntou golpes de diversas lutas, como Batuque, Karatê e Kung Fu, deixando a Capoeira com golpes jogados mais em cima, ritmo acelerado, e a nomeou como Luta Regional Baiana. O nome Capoeira não estava presente, pois a Capoeira ainda era tida como algo ilegal.
Até o ano de 1930, a prática da Capoeira era proibida no Brasil, onde era vista como violenta e subversiva, e esteve presente no Código Penal. A polícia recebia orientações para prender aqueles que praticavam esta luta. Em 1953, Mestre Bimba apresentou a luta para o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas. Na ocasião, Mestre Bimba chegou a desarmar os policiais que faziam a guarda de Getúlio, usando somente a Capoeira. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.
A Capoeira passa a se transformar com o decorrer dos anos, mudando algumas características tanto da Capoeira Angola como da Regional também. Assim surge a Capoeira dita Contemporânea. Ela é o estilo que é jogado nos dias de hoje. Saltos mortais e floreios estão presentes no seu jogo, tem um ritmo misto e é jogada tanto no solo como no alto.
Hoje em dia a Capoeira se encontra em todo o mundo, sendo um enorme símbolo brasileiro, ensinando nossa língua em diversos países através de suas músicas e pelos nomes dos seus golpes, que são todos em Português. A Capoeira assim como antigamente, continua sendo um forte símbolo de resistência no Brasil, deixando viva a cultura de um povo que tanto sofreu repressões no passado, e que ainda hoje sofre por conta de preconceitos. A Capoeira hoje é tida como um Patrimônio Imaterial Brasileiro e é motivo de muito orgulho para todos aqueles que a praticam.