Conflitos Globais e seus Impactos na Engenharia de Produção: O Caso Palestina e Israel

Conflitos Globais e seus Impactos na Engenharia de Produção: O Caso Palestina e Israel

Escrito por Jaqueline

Publicado em 24/07/2025

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Quando pensamos em guerra, dificilmente associamos isso à Engenharia de Produção. Afinal, esse campo costuma ser relacionado à eficiência, organização de processos, redução de custos e aumento da produtividade. No entanto, os efeitos de um conflito armado vão muito além das fronteiras onde ele acontece. Eles reverberam na economia global, afetando diretamente cadeias de suprimentos, processos produtivos, custos operacionais e até a disponibilidade de recursos.

Os conflitos no Oriente Médio, como os que envolvem Irã, Israel, Palestina e outros países da região, são exemplos claros de como tensões geopolíticas impactam a dinâmica dos mercados e das indústrias em todo o mundo. Agora, vamos entender como a lógica da Engenharia de Produção se conecta com esses eventos, analisando as consequências geradas.

Impacto gerado nas cadeias de suprimentos globais

O Oriente Médio é uma região estratégica para o comércio mundial, principalmente por conta de suas reservas de petróleo e de rotas comerciais cruciais, como o Canal de Suez, que conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, encurtando significativamente as rotas marítimas entre a Ásia e a Europa. Quando há tensões ou bloqueios nessas áreas, os navios precisam buscar rotas alternativas, o que significa mais tempo de transporte, maiores custos com combustível e, consequentemente, aumento no preço de produtos e insumos.

Para a Engenharia de Produção, isso se traduz em desafios concretos na gestão de estoques, no planejamento de demanda e na definição de fornecedores. Empresas que operam com sistemas como Just in Time, que trabalham com estoques mínimos para reduzir custos, se veem em situações críticas quando as entregas atrasam ou os insumos não chegam. Isso pode levar à paralisação de linhas de produção, perda de vendas e aumento dos custos operacionais.

Gestão de riscos e resiliência

Em um cenário global cada vez mais instável, a gestão de riscos dentro da Engenharia de Produção consiste em identificar, avaliar e criar planos de resposta para possíveis ameaças que possam comprometer os processos produtivos, a logística ou o fornecimento de insumos. No contexto de um conflito, riscos como bloqueio de rotas comerciais, escassez de matérias-primas, aumento dos custos de transporte, flutuação cambial e até sanções econômicas passam a ser realidade.

Isso significa que as empresas precisam ser capazes de se adaptar rapidamente às mudanças, reduzir sua vulnerabilidade e garantir a continuidade das operações mesmo diante de crises. Para o engenheiro de produção, compreender e antecipar esses riscos não é apenas uma questão operacional, mas uma vantagem competitiva. Empresas que conseguem responder rapidamente a eventos como guerras, pandemias ou crises econômicas conseguem proteger seus negócios, manter sua capacidade produtiva e, muitas vezes, até conquistar mercado frente a concorrentes menos preparados.

Variações Econômicas e Custos: Quando a guerra pesa no bolso da produção

Você já parou para pensar que mesmo estando a milhares de quilômetros de um conflito, ele pode estar impactando diretamente o preço dos produtos que você compra e os custos das empresas no mundo todo? É exatamente isso que acontece quando falamos das variações econômicas provocadas por guerras, como o que ocorreu entre Rússia e Ucrânia e o atual conflito entre Israel e Irã.

O primeiro impacto aparece onde mais dói: no preço do petróleo. O Oriente Médio é uma das regiões mais estratégicas na produção e distribuição dessa commodity, e como o petróleo é a base do transporte (rodoviário, marítimo e aéreo) e de diversas indústrias (plásticos, fertilizantes, produtos químicos, etc.), qualquer sinal de tensão na região faz os preços dispararem.

E não para por aí, com o petróleo mais caro, o custo do frete sobe, as matérias-primas ficam mais caras e o impacto chega diretamente na indústria. Essas flutuações econômicas desestabilizam não só os custos operacionais, mas também os planejamentos financeiros das empresas. Imagine uma indústria que planejou sua produção para os próximos meses baseada em um determinado preço de transporte e matéria-prima. Caso o custo do barril de petróleo suba de repente 20% por causa de um bombardeio em uma área estratégica, todo o planejamento precisa ser revisto.

Como conflitos internacionais afetam a produção e a logística?

Imagine que sua empresa é uma fábrica de celulares, tudo está rodando perfeitamente: as peças chegam no prazo, a linha de produção está sincronizada e os produtos saem rumo às lojas. De repente, surge uma guerra no Oriente Médio, a partir disso começa o efeito dominó.

A primeira peça que cai é a logística. As rotas aéreas e marítimas são interrompidas, portos são fechados e navios precisam desviar milhares de quilômetros para fugir de zonas de risco, isso significa mais tempo de transporte, mais combustível, mais custos e, consequentemente, mais atrasos.

Esses atrasos chegam direto na produção, pois peças essenciais não chegam, a linha de montagem para, pedidos ficam acumulados e o prazo de entrega se torna uma incógnita. Os modelos de gestão sucinto, como o famoso Just in Time, que trabalham com estoques mínimos para reduzir custos, ficam extremamente vulneráveis. Afinal, quando o fornecedor atrasa, não há peça de reposição esperando no almoxarifado. Portanto, o problema se amplia: fornecedores de fornecedores também são afetados. Já que se o vidro da tela vem de um país, o chip vem de outro, e o plástico da carcaça vem de uma terceira região, basta um elo dessa corrente ser afetado para o sistema todo entrar em colapso.

Sustentabilidade e Ética: Produção em massa, mas a que custo?

Em tempos de conflito uma pergunta ecoa cada vez mais forte nas empresas e na sociedade: até onde vai a responsabilidade de quem produz? Quando falamos de Engenharia de Produção, normalmente pensamos em eficiência, processos otimizados, redução de custos e aumento de produtividade. Mas existe um lado que, muitas vezes, é deixado de lado, o da responsabilidade ética e sustentável da cadeia produtiva.

Conflitos armados não impactam apenas as rotas e os custos, eles levantam discussões importantes sobre de onde vêm os nossos produtos, quem está por trás da fabricação e quais são as condições envolvidas nesse processo. Afinal, sem perceber, uma empresa pode estar comprando insumos de fornecedores que operam em regiões de conflito, exploram mão de obra vulnerável ou financiam, como é o caso dos Estados Unidos, direta ou indiretamente atividades ligadas à guerra.

A pressão sobre as empresas não vem só dos custos, mas também da sociedade, que hoje cobra transparência, responsabilidade social e sustentabilidade. Tendo isso em mente, o conflito nos lembra que, enquanto algumas fronteiras são demarcadas por guerras, outras são construídas nas escolhas que fazemos dentro das empresas, e cabe à Engenharia de Produção transformar essas escolhas em caminhos mais responsáveis, humanos e conscientes.

Conclusão: Quando a produção vai muito além das fábricas

Em síntese, fica claro que a Engenharia de Produção não vive em uma bolha isolada, ela está diretamente conectada ao mundo, às pessoas e aos acontecimentos, até mesmo aos que parecem distantes.

Quando uma guerra explode, seus efeitos atravessam fronteiras invisíveis e chegam às cadeias de suprimentos, aos custos, aos processos produtivos e às decisões que são tomadas dentro das empresas. A logística se complica, os riscos aumentam, os preços oscilam, e a sustentabilidade e a ética ganham um peso ainda maior nas escolhas.

No fim das contas, ser engenheiro de produção é ser quase um maestro em meio ao caos. É entender que fabricar um produto envolve muito mais do que linhas de montagem, inclui indivíduos, recursos, adaptabilidade e muita responsabilidade.