A Inteligência Artificial nos games

A Inteligência Artificial nos games

Escrito por Pedro Lucas

Publicado em 13/05/2024

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Muita discussão tem sido feita acerca da aplicação da Inteligência Artificial (IA) em diferentes campos e indústrias. Na área tecnológica, especialmente nos games, a situação não é diferente, todavia a IA tornou-se uma ferramenta útil em muitas atividades desse setor.

Nesse contexto, ela pode ser usada como ferramenta em vários estágios do desenvolvimento de jogos, desde os iniciais (como criação de roteiros ou design de personagens e cenários) até estágios mais avançados (como programação e design de níveis). De acordo com Daniel Rivers, professor e artista 3D, muitos campos são afetados pela IA e alguns profissionais estão cada vez mais adotando a ferramenta e entendendo que ela pode ajudar no seu trabalho, enquanto outros a veem como uma ameaça ao seu negócio.

GAME DESIGNER

O game designer é um dos profissionais mais importantes na criação de jogos, pois ele é o responsável pela preparação das partes micro e macro do jogo, bem como formular suas regras: o que o personagem fará se o jogador quiser matar o inimigo básico do jogo, quem é o inimigo e quais são as regras básicas da física do jogo, por exemplo.

Daniel fala que esses profissionais estão entre os que menos se opõem à adoção da IA, porque, para eles, a IA acaba sendo uma ferramenta que os ajuda a gerar ideias, codificar e entender o que outros jogos estão fazendo, já que a questão não é copiar as sugestões da IA, mas usá-las como um trampolim para o jogo criar suas próprias soluções criativas.

Além disso, processos de produção criativa, como a criação de roteiro, arte ou design de nível, muitas vezes podem ter dificuldades de se adaptar ao cronograma rígido do desenvolvimento de um jogo. Nisso, a IA entra como forma de ajudar a sair de um bloqueio criativo, dando uma base em cima da qual um criador pode trabalhar.

O FUTURO DO GAME DESIGN COM AS IA’s

Segundo a opinião de Tim Sweeney, CEO da Epic Games, ainda haverá um longo processo seletivo para saber como tudo funciona. A tecnologia de IA é eficaz quando aplicada em grandes proporções de números de dados, em que você pode baixar bilhões de amostras de designs existentes e treiná-los, mas isso não funcionará em níveis integrais, como no jogo inteiro.

Segundo Julian Togelius, professor associado de ciência da computação da Universidade de Nova York e coautor do livro “Inteligência Artificial e Jogos”, o uso da IA ​​tem a oportunidade de democratizar o desenvolvimento de jogos para estúdios independentes que não possuem recursos suficientes comparado a um estúdio grande, afinal o processo de criação do jogo é diferente para quem tem acesso a recursos mais avançados e uma equipe especializada. Segundo Togelius “se você tem uma equipe de duas pessoas e nenhum animador, você pode pedir à IA para fazer a animação para você. O estúdio pode criar um jogo lindo mesmo que não tenha todos os recursos. Isso é algo que estou muito otimista”.

LEVEL DESIGN

O profissional que desenha o nível do jogo tem um papel um pouco mais focado do que os designers de jogos: em vez de se concentrarem nas partes macros do jogo, eles projetam regras específicas do mapa. Este especialista determina os problemas que o jogador enfrenta: se existem quebra-cabeças, se o mapa possui armadilhas que dificultam a vida do jogador, etc. Segundo Daniel, assim como os desenvolvedores de jogos, raramente se vê esses profissionais reclamando do uso de IA. A ideia não é substituí-los, mas poder usar a tecnologia como ferramenta.

PRODUTOR E GESTOR

Essas posições são semelhantes a outras empresas: cada projeto conta com um especialista administrativo responsável por gerenciar a equipe, fiscalizar o orçamento, garantir que tudo esteja dentro do prazo e muito mais. Embora ainda não existam ferramentas de IA populares nessas indústrias, produtores e gestores utilizam softwares de gestão e organização como o Trello. Se a IA for utilizada pela organização, ela poderá vê-la como uma oportunidade para melhorar o seu trabalho.

ROTEIRISTAS

O uso de inteligência artificial na elaboração de roteiros é sensível não só no cenário dos jogos, mas também na indústria audiovisual, já que vários especialistas têm questionado a utilização de ferramentas para a criação de diálogos, narrativas e enredos.

No contexto dos jogos, embora a ferramenta possa contribuir para agilizar processos na criação de elementos mais mecânicos do enredo ou diálogos de personagens secundários (os NPCs - personagens não jogáveis), muitos profissionais levantam dúvidas sobre o emprego da IA em algo tão intrínseco à criatividade humana como a construção de uma história.

Além disso, há um debate em torno do método empregado pelas principais ferramentas de IA para gerar conteúdo: as IAs violam os direitos autorais dos profissionais, já que utilizam, sem consentimento, materiais preexistentes para produzir um novo conteúdo?

Para escritores profissionais, como roteiristas, há outros aspectos importantes a se considerar: o material produzido pela inteligência artificial realmente consegue imergir o usuário no jogo? Os diálogos criados são persuasivos? As tramas desenvolvidas são verdadeiramente originais, apesar de se basearem em conteúdos já existentes? E se as empresas passarem a preferir contratar roteiristas somente para a edição de conteúdos produzidos por IAs?

Esta é uma pauta em constante evolução, à medida que o mercado incorpora essas novas tecnologias e introduz novos produtos.

CONCEPT ARTIST E DESIGNER DE PERSONAGEM

Quem se dedica ao design de novos personagens ainda vê pouco impacto no uso de Inteligência Artificial (IA). Isso ocorre porque as empresas de jogos geralmente contratam artistas profissionais e prezam por trabalhos originais.

No entanto, imagine a situação em que um ilustrador tenha criado a arte conceitual de um inimigo e o jogo necessite de uma série de inimigos com um design semelhante, porém não idêntico. É nesse tipo de situação que a IA pode entrar em ação, gerando variações de um design original de maneira rápida e eficiente.

Apesar disso, assim como acontece com os roteiristas, o uso da IA ainda é motivo de debate entre artistas e ilustradores, pelas mesmas questões: a inteligência da IA é alimentada pela arte disponibilizada por milhares de artistas que não deram autorização para tal uso. Ademais, existe a discussão sobre até que ponto é válido automatizar a criação artística de um design original.

IA’s PARA EQUILIBRAR O JOGO E ALTERAR AS DIFICULDADES

Um jogo de qualidade muitas vezes percorre uma linha tênue de equilíbrio, de desafiar os jogadores sem gerar frustração. Nesse caso, a inteligência artificial é capaz de observar as ações e competências do jogador, adaptando a dificuldade do jogo de acordo com a sua forma de jogar. Por exemplo, sistemas de jogos adaptativos baseados em IA utilizam algoritmos de aprendizado de máquina para personalizar a experiência de jogo de cada jogador e ela ainda consegue analisar as preferências, comportamentos e habilidades do usuário, podendo ajustar dinamicamente vários elementos do jogo, como o design dos níveis, os confrontos com adversários e a distribuição de itens.