Os impactos do Fast Fashion

Os impactos do Fast Fashion

Escrito por Giovanna Victória

Publicado em 21/06/2024

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Você sabe o que é fast fashion?

Em tradução literal, a “moda rápida”, é um termo usado para representar o modelo de negócios na indústria da moda que se caracteriza pela rápida produção e distribuição em massa de peças de vestuário que atendam às últimas tendências com um preço baixo. Resumidamente, as empresas de varejo analisam o que as pessoas estão consumindo e o que as grandes marcas do meio da moda produzem e replicam modelos semelhantes em grandes quantidades, baixa qualidade e baixos custos, permitindo que os consumidores adquiram as peças novas quase instantaneamente.

Talvez, em um primeiro momento, você conclua que isso torna a moda mais acessível e democrática, pois geralmente quando se fala em moda ou algo relacionado ao mundo fashion, vem à mente grandes grifes como Gucci e Louis Vuitton, que trazem produtos limitados, exclusivos e com alto valor agregado. De fato, marcas como Zara e C&A, exemplos relevantes de empresas que utilizam o conceito de fast fashion, que oferecem coleções constantemente renovadas para atrair consumidores, proporcionam isso, mas há um preço a se pagar.

O surgimento do fast fashion está relacionado à globalização e aos avanços tecnológicos que ocorreram de maneira mais efetiva nas últimas décadas do século XX, criando novos padrões de consumo. A globalização facilitou a terceirização da produção para países com custos de mão de obra mais baixos, geralmente na Ásia; enquanto inovações tecnológicas permitiram a automação de processos de produção e a rápida comunicação global. A internet e as redes sociais aceleraram ainda mais este processo, criando um ciclo incessante de novas tendências e aumentando a pressão sobre as marcas para oferecer novidades constantemente.

O fast fashion tornou-se uma resposta direta ao desejo dos consumidores. Este modelo de negócios capitaliza a natureza efêmera da moda e a psicologia do consumidor que busca a gratificação imediata. No entanto, a democratização da moda tem um custo significativo, que se manifesta em impactos ambientais e sociais profundos. Sendo alguns deles:

Poluição:

O modo de produção do fast fashion gera várias formas de poluição. Como visam produtos que sejam baratos, os materiais que são utilizados na fabricação das roupas são de qualidade inferior; um exemplo é o poliéster, tecido comumente utilizado que é feito a partir do petróleo que, para a produção, tingimento ou quando descartado, gera substâncias tóxicas que poluem as águas e o solo. Ainda, visto que essas indústrias, em sua maioria, estão localizadas na Ásia, há a necessidade de transportar uma grande quantidade de produtos, gerando emissões significativas de gás carbônico (CO2).

Produção massiva de lixo têxtil:

A quantidade de roupas produzidas e vendidas, a rápida obsolescência das tendências de moda e a breve vida útil devido à qualidade, incentivam o descarte rápido e frequente das peças, o que resulta em grandes volumes de resíduos têxteis que acabam em aterros sanitários ou incineradores.

Exploração de mão de obra:

A pressão pelos baixos preços, pela rápida produção e pela produção em massa, resulta em condições de trabalho exploradoras. A mão de obra utilizada, em sua maioria de mulheres, vem, geralmente, de países subdesenvolvidos, nos quais ocorre também a utilização de trabalho infantil. As jornadas de trabalho exaustivas, os baixos salários, a ausência de direitos trabalhistas e os locais de trabalho precários e insalubres são comuns em indústrias têxteis voltadas para o fast fashion. Incidentes trágicos, como o colapso do edifício Rana Plaza em Bangladesh em abril de 2013, que matou mais de mil trabalhadores, destacam as condições precárias frequentemente associadas à produção desse modelo de negócios. A concentração da produção em países sem leis trabalhistas e com forte repressão aos movimentos sindicalistas corroboram com a desigualdade social, criando um ciclo de pobreza e exploração difícil de romper.

Há, ainda, o consumo excessivo de recursos naturais: a produção em larga escala necessita de grandes quantidades de água, matérias-primas e energia.

Baseado nos impactos sociais e ambientais que o fast fashion traz para a sociedade, estudiosos buscam maneiras de contornar e reduzir esses problemas. Algumas das alternativas que vem ganhando espaço são:

Slow fashion:

A moda lenta propõe um consumo mais consciente e sustentável. É um movimento que busca valorizar a qualidade e não a quantidade, incentivando que as pessoas busquem comprar roupas duráveis e atemporais, pois assim podem ser usadas por muitos anos. Ainda, a slow fashion, promove e incentiva práticas éticas, com foco na transparência, nas condições de trabalhos justas e na redução dos impactos ambientais.

Reciclagem:

Como uma maneira de reduzir o desperdício têxtil, as práticas de reciclagem vem ganhando popularidade. Em vez de seguir um modelo linear de produzir - usar - descartar, a economia circular incentiva a manutenção, reutilização e reciclagem dos produtos. Essa alternativa envolve a transformação de peças antigas em novas fibras têxteis ou em dar um novo propósito para as roupas usadas, um exemplo disso, são os brechós, que têm se tornado comuns nos centros urbanos. Dessa maneira, pode-se prolongar a vida útil dos materiais têxteis e reduzir a necessidade de produção de novas matérias-primas.

Materiais sustentáveis

Atualmente, com a questão ambiental sendo tratada regularmente, algumas marcas estão buscando adotar o uso de materiais mais sustentáveis, como algodão, bambú, linho e tecidos reciclados. Materiais como estes citados causam um impacto ambiental menor quando comparados aos materiais tradicionais, utilizando menos água, energia e produtos químicos no processo de produção.

Transparência e responsabilidade

O fornecimento de informações claras sobre sua cadeia de suprimentos, condições de trabalho e práticas ambientais, que permitem que os consumidores façam escolhas informadas vem se tornando comum em algumas marcas e demonstram práticas de transparência e responsabilidade social. Para garantir o alinhamento dessas práticas da marca com os padrões de sustentabilidade e ética, certificações e auditorias são realizadas.

Em síntese, vemos que, embora o fast fashion tenha tornado a moda acessível a um público mais amplo, seus impactos sociais e ambientais são significativos e não podem ser deixados de lado. Por isso, é necessário que consumidores e empresas busquem adotar práticas mais sustentáveis para mitigar esses impactos. Além disso, a conscientização e mudança de comportamento são essenciais.

Até que ponto o barato e bonito vale a pena?