Jiu-Jitsu e Engenharia de Produção: Dois mundos que compartilham da mesma essência

Jiu-Jitsu e Engenharia de Produção: Dois mundos que compartilham da mesma essência

Escrito por Ana Sofia Sindeaux

Publicado em 12/10/2025

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O Jiu-Jitsu é considerado uma arte suave. Uma luta onde a força bruta perde para a técnica e a estratégia reina. Quem já pisou em um tatame entende: o Jiu-Jitsu não é apenas sobre dominar o oponente, mas sobre dominar a si mesmo: controlar o corpo, o tempo, a respiração e, principalmente, o pensamento.

Curiosamente, essa mesma filosofia ecoa com perfeição na Engenharia de Produção. Pode parecer improvável que uma arte marcial e uma área das engenharias tenham algo em comum, mas, quando olhamos mais de perto, percebemos que ambas compartilham a mesma essência: a busca pela eficiência, o domínio dos processos, e o constante aperfeiçoamento. Mas essa relação vai muito além das analogias simples; o lutador de Jiu-Jitsu procura a melhoria contínua, assim como o Engenheiro de Produção. A cada treino, o praticante executa uma espécie de “PDCA corporal”: planeja uma estratégia, executa uma técnica, confere o resultado e ajusta os erros. Esse ciclo se repete centenas de vezes, até que o movimento se torne fluido, natural e preciso. Da mesma forma, em uma linha de produção, o engenheiro observa, mede, testa e corrige. O produto final, seja um componente mecânico, um serviço ou uma rotina de trabalho, é fruto desse mesmo processo iterativo, onde cada erro é uma oportunidade de aprendizado. No tatame, cada movimento do corpo influencia o resultado final, e na Engenharia de Produção o raciocínio é o mesmo.

O Lean Manufacturing, base da Engenharia de Produção moderna, ensina que tudo o que não agrega valor ao cliente é desperdício: seja tempo, movimento, transporte, estoque, espera ou retrabalho. No Jiu-Jitsu, o corpo humano seria o “processo produtivo”, enquanto o adversário, o “ambiente de operação”. Em uma luta, qualquer erro de posicionamento é suficiente para comprometer o resultado. Da mesma forma, um erro em um processo industrial pode gerar atrasos, custos e perdas significativas.

Além disso, na Engenharia de Produção, o engenheiro enfrenta diversos tipos de pressão: decisões de última hora, falhas inesperadas, mudanças no cronograma e uma série de variáveis que exigem resposta imediata. Nos tatames, a lógica é parecida, só mudamos um pouco o cenário. Cada segundo exige uma escolha: atacar, defender, ceder espaço ou contra-atacar. A luta é uma sequência de decisões rápidas, feitas sob pressão, onde qualquer hesitação pode significar a derrota. No fim, agir rápido não é sobre reagir impulsivamente, mas sobre ler o ambiente, entender o contexto e agir com precisão. Essa é a base da gestão de operações: manter o controle em meio à incerteza, garantindo que as decisões sejam racionais e sustentadas por dados mesmo sob situações de estresse.

No Jiu-Jitsu, errar é necessário. Ninguém aprende uma nova técnica sem antes tentar aplicá-la dezenas de vezes. Cada erro é um dado, uma informação preciosa que ajuda o praticante a ajustar a postura, o tempo, o posicionamento. Isso é um reflexo direto do que a Engenharia de Produção chama de melhoria contínua. Nesse contexto, o ciclo PDCA (Planejar, Executar, Checar, Agir) é o método equivalente ao treino de um lutador; Planeja-se uma técnica (Plan), executa-se no treino (Do), observa-se o resultado (Check) e faz-se o ajuste (Act). Esse processo se repete infinitamente, tanto no tatame quanto no chão de fábrica. Dessa forma, a perfeição não é um ponto de chegada, mas um processo de ajustes e aprendizados constantes.

Nos dois ambientes, o erro não é um fracasso, mas uma ferramenta. No Jiu-Jitsu, o praticante que foge do erro nunca evolui; na engenharia, a organização que esconde suas falhas nunca melhora. A maturidade vem justamente da capacidade de analisar o erro sem medo, e a filosofia Kaizen resume bem essa ideia: “Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje.”

Tanto no Jiu-Jitsu quanto na Engenharia de Produção, o progresso depende do feedback contínuo. No tatame, o nosso corpo é o primeiro a dar feedbacks: se a técnica está errada, a dor ou a ineficácia mostram isso na hora. Além disso, há fontes externas que ajudam o lutador a ajustar o movimento. Na engenharia, o feedback vem dos indicadores de desempenho. Os KPIs, gráficos de eficiência, taxas de retrabalho e níveis de satisfação do cliente. Esses dados são os “professores” do engenheiro. Eles mostram, com clareza, onde a técnica ainda precisa ser aprimorada.

Assim como o lutador ajusta o golpe de acordo com o retorno do treino, o engenheiro ajusta o processo com base nos resultados obtidos. Ambos sabem que sem feedbacks não há evolução real, apenas repetição mecânica.

Por fim, há um elemento psicológico que une o lutador e o engenheiro: a resiliência. No tatame, o praticante aprende a cair e levantar, a perder e voltar no dia seguinte; Na engenharia, os projetos nem sempre saem como o planejado: às vezes o cronograma atrasa, o orçamento não fecha, o resultado não vem. Mas o importante é não abandonar o processo. Cada tentativa se torna aprendizado, e cada erro, uma oportunidade de melhora.

Em ambos os caminhos, o progresso parece invisível, mas se evidencia ao longo do tempo. A evolução de um lutador é medida em detalhes: um movimento mais fluido e uma leitura mais rápida do adversário. A evolução de um engenheiro também se manifesta nas sutilezas: um fluxo mais estável, um custo reduzido, uma equipe mais alinhada. Assim, pode-se dizer que tanto o Jiu-Jitsu quanto a Engenharia de Produção são artes do aperfeiçoamento constante.