O mágico de Oz, uma alegoria monetária

O mágico de Oz, uma alegoria monetária

Escrito por Sarah Ellen Sousa Moreira

Publicado em 26/01/2023

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O Mágico de Oz é um clássico livro infantil escrito por Lyman Frank Baum e publicado em 1900. É conhecido por milhares de pessoas e possui inúmeras adaptações para o cinema, incluindo a mais famosa delas o clássico de 1939 estrelado por Judy Garland. Muitas pessoas acreditam que a história pode ser interpretada como um simbolismo político e econômico da década que se inicia em 1890 e houve grande alvoroço sobre o padrão ouro.

A teoria de que a história escrita por L. Frank Baum faz paralelos com esse conturbado momento da história americana se baseia em dois artigos, um publicado pelo autor Henry Littlefield chamado “ O Mágico de Oz: Parábola sobre o Populismo” e outro pelo professor Hugh Rockoff “O Mágico de Oz’ como uma alegoria monetária”.

A lei da moeda de 1873, mais tarde conhecida como “Crime de 73”, acabou com o bimetalismo nos EUA. Impossibilitando assim que pessoas detentoras de barras de prata pudessem transformá-las em moedas de dólar com curso legal, estabelecendo dessa maneira o padrão-ouro. Juntando isso à diminuição da oferta de ouro nos EUA acarretou uma grande crise econômica.

A crise se deve a implicação que a diminuição da oferta de ouro causa na economia. Conforme a lei da oferta e da demanda cujo valor e procura se relacionam de forma inversa quanto menor a oferta de moeda para uma demanda que se mantém estável o valor da moeda irá aumentar. Quando o valor de uma certa moeda aumenta o preço de bens comprando com aquela moeda diminuem, se isso acontecer de forma generalizada podemos dizer que houve uma deflação. Foi justamente o que ocorreu nos EUA de 1880 a 1896 que registrou uma deflação de 23%. A deflação é benéfica para os credores e ruim para os endividados. Para os agricultores foi um período bastante complicado visto que estes possuíam muitas dívidas bancárias.

Compreendendo o período histórico e a situação econômica é possível entender os paralelos com o livro mágico de Oz. A história começa com Dorothy e seu fiel companheiro Toto, um cachorrinho, que moram em uma fazenda descrita como cinza no Kansas com seus tios. Dorothy e Toto por meio de um ciclone são levados até a terra mágica de Oz. Segunda a teoria a história começa no Kansas pois foi onde se iniciou o movimento populista em busca da volta do bimetalismo e possui muitos fazendeiros em dificuldades. O ciclone seria a agitação que houve devido a grande depressão, seria o próprio movimento. Dorothy representa os tradicionais valores americanos, a américa honesta e de bom coração. Já Toto devido a similaridade com a palavra “teetotaler” que significa abstinência representa os movimentos proibicionistas do álcool que estavam ocorrendo na américa. E Oz seria uma referência a medida de onça de ouro.

Assim que Dorothy chega a Oz ela aterriza com a casa em cima da bruxa má do leste a matando. Uma bruxa boa diz para Dorothy pegar os sapatos de prata e seguir pela estrada de tijolos amarelos até a cidade das esmeraldas que lá o poderoso mágico de oz poderia ajudá-la a voltar para casa. A bruxa má do leste representa o presidente vigente da época Grover Cleveland que com seu conservadorismo fiscal acabou contribuindo para a população chegar a aquela situação, cometendo assim um suicidio político. O sapato de prata seria a representação do padrão prata e a estrada de tijolos amarelos o padrão ouro. A cidade das esmeraldas seria a capital dos estados unidos Washington, D.C.

Ao longo do caminho para a cidade das esmeraldas, Dorothy encontra um espantalho que deseja um cérebro para poder pensar mas que na verdade se mostra bem inteligente ao longo da história depois um homem que agora era feito de lata, estava enferrujado e desejava um coração e por último um leão covarde que desejava coragem. Todos eles se juntam à jornada de Dorothy para conseguir o que tanto desejam. O espantalho representa os fazendeiros em dificuldades que eram capazes de entender as complexas discussões sobre a escolha de um padrão, mesmo que muitos desacreditassem. O homem de lata seria um trabalhador industrial que foi desumanizado se tornando parte de uma grande máquina, a ferrugem seria o desemprego e a busca pelo coração seria a busca por recuperar sua humanidade. O leão covarde seria o candidato democrata à presidência,William Jennings Bryan que possuía uma poderosa oratória e defendia a volta do padrão prata mas que foi receoso em se juntar a causa assim sendo considerado covarde. A ordem de aparição também se refere a ordem com que se juntaram ao movimento, sendo primeiro o populismo iniciado pelos fazendeiros, depois estes ganhando apoio dos trabalhadores urbanos e por último conquistando um político populista. Quando o leão aparece, ele tenta atacar o homem de lata mas não consegue arranhar sua estrutura, representando assim que o candidato perdeu as eleições devido às dificuldades que ele teve de penetrar o eleitorado urbano.

Quando eles chegam a cidade das esmeraldas e vão falar com o mágico, este aparece de diferentes formas para cada um deles e diz que cada um precisa pagar pelo que recebe, então eles devem acabar com a bruxa má do oeste para que ele conceda os seus desejos. A bruxa representa o último obstáculo para eles conseguirem o que desejam e ela não consegue atacar diretamente Dorothy devido aos sapatos de prata. Dorothy no fim consegue acabar com a bruxa jogando um balde de água nela, mas acontece que o mágico não tinha de fato o poder para conceder os seus desejos mas no fim finge possuí-lo. O mágico pode representar políticos no geral que prometem o que não podem cumprir ou o conselheiro do candidato republicano devido a visão republicana que o mágico apresenta dizendo que todos devem pagar pelo que recebem. A bruxa má do leste seria o candidato republicano, William McKinley que defendia a permanência do padrão somente do ouro mas não possuía força suficiente para atacar diretamente o padrão prata ou as forças malignas da natureza. O balde de água que acaba com a bruxa má do leste seria a necessidade dos agricultores do oeste de água, chuva para conseguirem ter boas colheitas.

No fim da história o espantalho acaba se tornando governante da cidade das esmeraldas, o homem de lata governa o povo do oeste e o leão covarde se torna rei de uma floresta. Dorothy descobre que para voltar para casa bastava bater três vezes com os saltos do sapato de prata. Ela faz isso e volta para casa, mas os sapatos de prata ficam para trás. O final do espantalho representa que os interesses dos fazendeiros atingiram dimensões globais, o do homem de lata significa o industrialismo chegando no oeste e o do leão que o candidato perdeu as eleições e se tornou governante apenas de figuras menores. O final de Dorothy representa que os problemas poderiam ter sido resolvidos com a volta do padrão prata mas que no fim essa discussão acabou ficando para trás devido ao aumento da oferta de ouro e em 1900 nos EUA o padrão ouro já estava estabelecido.

Esta teoria não possui nenhuma confirmação por parte do autor mas se torna realmente interessante em vista de tantos paralelos que podem ser traçados e comumente essa teoria é citada em livros de macroeconomia no capítulo sobre moeda e inflação.