O caos do Layout: o que Overcooked ensina sobre Eficiência Operacional

O caos do Layout: o que Overcooked ensina sobre Eficiência Operacional

Escrito por Kamille Costa

Publicado em 01/06/2025

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Quando se está em um ambiente de produção, cada detalhe é fundamental para a eficiência do processo. Sendo assim, qualquer erro de planejamento é capaz de desencadear desperdícios significativos para a produção e, por mais que isso pareça um problema unicamente de grandes fábricas, é facilmente observado em programas do dia a dia, incluindo jogos. Overcooked é um jogo multiplayer de simulação, onde os jogadores precisam preparar e entregar pedidos rapidamente, dentro de uma cozinha completamente caótica.

Obstáculos, má disposição de utensílios, bancadas que se movem, tudo isso torna possível a visualização de como um layout ruim pode transformar uma simples tarefa, como cortar legumes, em um grande desastre. Uma ilustração prática sobre como a eficiência operacional vai muito além do ambiente fabril. Nesse blog, vamos descobrir como as fases do jogo abordam problemas reais de disposição de processos e o que podem ensinar sobre gestão de operações, já que o jogo, apesar do tom cômico, levanta a preocupação de todo engenheiro de produção: Como posso otimizar meu processo?

O Layout como gargalo na prática (e no jogo)

Quando se tem a primeira experiência de jogabilidade no Overcooked, é quase automático a frustração e repasse de responsabilidade para outros integrantes da equipe. “Você que precisava ter feito aquilo” ou “Eu estava fazendo tudo sozinho” são as frases mais comumente escutadas ao participar de uma partida, mas se parar para observar, verá que na realidade, o verdadeiro culpado é o layout

Em cada fase, o mapa é mudado, mas sempre seguindo o mesmo padrão: o quão mais bagunçado, melhor. Isso acarreta em voltas enormes para buscar por ingredientes, atrasos de entregas e colisões de personagens, forçando que os jogadores estejam constantemente reorganizando tarefas para tentar otimizar o tempo, mas é aí que surgem os dilemas: Por que o fogão fica tão longe da pia? Por que o balcão de entrega tem tantos obstáculos no caminho? Como dividir tarefas quando todos precisam passar pelo mesmo corredor?

Essa linha de raciocínio acaba em um princípio de conhecimento essencial para toda empresa que precisa de eficiência operacional: um layout mal feito interrompe o fluxo de trabalho, e isso aumenta consideravelmente o risco de erros.

Alguns conceitos em risco

Como abordado anteriormente, pensamentos simples e que você pode acreditar ter ligação somente com uma gameplay, podem abordar tópicos muito além da organização de uma cozinha. Sendo assim, temos quatro exemplos de conceitos aplicados na produção que também são aplicados dentro do jogo de forma desorganizada, reforçando a necessidade de um bom layout para um bom resultado, mesmo que durante um passatempo.

  • Fluxo de trabalho: Quando se é imaginado uma cozinha, consequentemente surge o pensamento de fluxo contínuo: cortar - cozinhar - montar - entregar. Em Overcooked, as interrupções nesse ciclo básico de atividades levam ao aumento de tempo dentro das etapas, o que não deveria ser um grande problema, se não fossem várias etapas com gargalos que se acumulam até comprometer completamente o resultado, exatamente como em linhas de produção mal projetadas. Quando o processo é repetidamente interrompido, pausado e retomado, seja por falta de organização ou má gestão de recursos, a eficiência sofre uma piora que prejudica completamente os resultados esperados.

  • Movimentação desnecessária: Dentro do Lean Manufacturing, - ou Manufatura Enxuta - que é uma filosofia de gestão criada no Japão, após a segunda guerra mundial, especificamente no Sistema Toyota, o principal objetivo é tornar os processos o mais eficientes possível, focando nas necessidades do cliente. Juntamente desse objetivo geral, também são trabalhados sete desperdícios como base de melhoria, um deles é categorizado como excesso de movimentação. No nosso exemplo, jogadores que precisam andar demais pela cozinha perdem tempo e eficiência, assim como colaboradores em fábricas mal planejadas fisicamente, quando precisam buscar ferramentas, ingredientes ou peças, maior o tempo de ciclo e menor a eficiência.

  • Trabalho em equipe e estações bem definidas: Ter um problema na estrutura organizacional física vai muito além de somente interferir na integridade material, pois também afeta diretamente na harmonia do grupo. Quando todos tentam acessar um mesmo espaço que não tem capacidade para atender a demanda, surgem confusões que lembram problemas reais de dimensionamento e zoneamento de áreas de trabalho, podendo causar até discordâncias entre os próprios envolvidos por “colisões humanas" e prejudicar a produtividade da equipe.

  • Layouts fixos x variáveis Como citado anteriormente, alguns níveis mudam o layout durante o jogo, desde plataformas deslizantes até bancadas desaparecendo. Enquanto layouts fixos priorizam processos estáveis e repetitivos, um layout variável exige processos ágeis, com boa comunicação e equipes especializadas, onde o sucesso depende da eficiência. Essas condições exigem que haja um nível de resiliência e flexibilidade no processo, situação facilmente encontrada em ambientes produtivos incertos e voláteis, como hospitais e eventos, que possuem uma necessidade constante de adaptação rápida.

Conclusão

Como foi possível perceber, Overcooked vai muito além de somente um jogo dinâmico para passatempo. Na realidade, pode ser aplicado como uma exemplificação lúdica e eficaz de como nem sempre a culpa é das pessoas, do que acontece quando o espaço de trabalho não colabora com o processo, já que o ambiente em que precisam operar afeta diretamente seu desempenho. Um layout ruim impede até os melhores times de funcionar bem, seja em uma cozinha ou em uma fábrica, até porque não dá pra ser eficiente em um sistema que já nasce desorganizado. Planejar bem espaços e fluxos é o que separa empresas do sucesso e colapso.